A complexidade técnica
A sinuca é considerada como um dos esportes mais difíceis de serem praticados no mundo. Um esporte de inúmeros detalhes que exigem bons equipamentos, técnica, precisão, concentração, preparo físico, muito treino, equilíbrio emocional e condicionamento mental em vários aspectos.
Todos os leigos que praticam a sinuca como lazer começam a jogar sem as técnicas corretas e geralmente jogam por muitos anos de forma errada. Quando migram para a sinuca esportiva e percebem que existem técnicas próprias para a prática de alto nível, sofrem para mudar seus hábitos errados e ensinar seus corpos e mentes a se ajustarem às novas técnicas. Algumas delas ficam tão enraizadas em seus cérebros que dificilmente são substituídas por outras.
O tamanho e o peso das bolas influencia na técnica necessária para a prática. Por isso, diferentes jogos exigem diferentes técnicas. Assim também acontece com o taco que tem comprimento, largura da ponta, largura da base, tipo de virola (o suporte da sola), tipo de sola (o couro na ponta), ponto de equilíbrio, peso e material em combinação única para aquele taco. Cada jogador se adapta melhor com um taco específico e geralmente demora um bom tempo para cada jogador encontrar o taco ideal para seu jogo. Alguns aspectos pouco valorizados mas muito importantes são o material utilizado na produção do taco e o processo de produção do taco. Tacos melhores são de melhores madeiras e que envergam pouco quando recebem o impacto da bola. Quanto mais reto ele ficar sob pressão, maior a precisão da tacada feita.
Outro aspecto similar é o tipo de tecido utilizado na mesa. Existem tecidos mais grossos e mais finos de várias marcas que torna a mesa mais lenta ou mais rápida e mais ou menos receptiva aos efeitos colocados na bola branca. O atleta precisa estar preparado para todo tipo de tecido. Tecidos bem cuidados são aqueles que não recebem impactos fortes na recolocação das bolas na mesa, no contato com o taco nas tacadas e não "apanham" de jogadores estressados com seus próprios erros que batem os tacos na mesa. Além disso, devem ser constantemente limpos e, dependendo da costura do tecido, devem ser frequentemente penteados e passados com ferro quente. O simples ato de passar o tecido com ferro quente altera a jogabilidade do tecido, fazendo as bolas correrem mais na mesa, exigindo mais uma adaptação do praticante.
A qualidade da mesa também é decisiva para a boa prática. Mesas muito velhas não ficam niveladas por muito tempo e o desnivelamento causa o desvio das bolas. Até mesas novas precisam de nivelamentos frequentes. Jogadas feitas em baixa velocidade são muito afetadas por estes desníveis. Estes também podem surgir por erro do profissional de montagem que não monta e nivela a mesa corretamente. Por isso, os serviços de um profissional especializado são necessários para muitos serviços a serem executados nas mesas. Também acontece muito de desvios das bolas causados por pó acumulado sob o tecido e por pequenos buracos nos tecidos causados por impacto de bolas, tacos e outros objetos. Periodicamente os tecidos devem ser substituídos por novos para minimizar este problema.
Um dos segredos da alta qualidade de jogo é o controle da bola branca. Ela é atingida pela ponteira de couro do taco (sola) que é revestida por giz para não escorregar no contato com a resina da bola branca. Diferentemente do que muitos leigos pensam, a bola branca não precisa ser acertada sempre no meio. Cada jogada deve ser planejada com antecedência para que uma sequência de tacadas seja concluída com êxito e o jogador some muitos pontos de uma vez. Para o correto posicionamento da bola na mesa após ela ser atingida pelo taco, ela deve ser tocada em muitos pontos diferentes com velocidade do taco controlada e por determinado tempo dependendo da intenção do jogador. As imagens abaixo mostram bolas de treino que apresentam guias para os pontos de contato entre o taco e a bola. O contato acima do meio faz a bola branca avançar após o contato com a bola alvo, enquanto o contato abaixo do meio faz a bola branca retroceder (voltar para trás). É a famosa "puxadinha". O contato do lado é usado para, basicamente, impulsionar ou frear a bola quando ela atingir uma tabela da mesa. O giro lateral aumenta o atrito entre a bola e o tecido da tabela e lança a bola para o lado em que ela estiver girando. Qualquer ponto entre esses quatro principais pode ser alvejado, permitindo uma quantidade praticamente infinita de pontos de contato na bola.
Para executar uma tacada perfeita, vários detalhes técnicos devem ser bem executados. A técnica começa com o planejamento de cada tacada antes de se posicionar na mesa. Ainda em pé, o jogador decide a melhor opção de jogada e se concentra para que seu corpo a execute da forma planejada. A técnica avança para a correta aproximação da mesa, o posicionamento preciso do corpo (braços, pernas, ombros, cabeça, mãos, quadril, olhos), a respiração, o movimento correto e o encerramento da tacada. Cada aspecto deste contém muitos detalhes que precisam ser treinados para que o corpo aprenda um de cada vez cumulativamente.
Por ser cheio de detalhes, o silêncio é fundamental para a prática da boa sinuca. Ambientes barulhentos não permitem boa concentração e sons repentinos em alto volume podem assustar o jogador no momento exato de sua tacada com risco de perder o jogo, principalmente quando o adversário tem alto nível técnico e está concentrado. Salões de jogos com outras modalidades de lazer ou esporte não servem para a prática da sinuca esportiva. Em locais de treino, quando não há torneios acontecendo, é mais difícil manter a disciplina dos amigos que se encontram esporadicamente e querem colocar a conversa em dia. Pedidos de silêncio são frequentemente ouvidos quando o volume do som começa a se elevar demais. Em competições, o controle é mais rígido e os próprios presentes têm consciência da necessidade do silêncio. Muitos grandes jogadores têm ótimo condicionamento mental para manterem-se concentrados em qualquer situação, para decidirem a melhor estratégia de jogo com sabedoria e para evitar jogadas que estejam além de seus próprios limites.
Jogadores profissionais que dependem do esporte para sobreviver dedicam-se por 8 horas diárias ou mais de treino na mesa e fora dela para atingirem o nível técnico, emocional, mental e físico necessário para grandes competições. Constantemente seus treinos são compostos de repetições exaustivas da mesma jogada até a satisfação próxima da perfeição e grande parte da preparação acontece com o apoio de psicólogos e preparadores físicos. Jogadores amadores não têm tanta disponibilidade de tempo para esse nível de aperfeiçoamento. Para estes, os treinos geralemente acontecem no dia-a-dia de torneios internos e de bate-bola sozinhos na mesa.
Entre as necessidades físicas para a prática da sinuca estão a resistência, a elasticidade, a força, o equilíbrio, a firmeza e a coordenação motora. Resistência para caminhar 1500 metros a cada 90 minutos de jogo, para flexionar o corpo de diversas maneiras e para permanecer imóvel em posições desconfortáveis para executar tacadas em situações complexas. Elasticidade para o correto posicionamento físico do corpo e para ter amplitude de movimentos e posições em qualquer situação de jogo. Força para suportar o próprio corpo em posições desconfortáveis com equilíbrio e firmeza. Equilíbrio para o correto posicionamento físico enquanto estiver posicionado para a tacada. Firmeza para manter o corpo imóvel em qualquer posição. Coordenação motora para controlar cada detalhe do posicionamento físico e dos movimentos de jogo e para controlar com precisão o movimento do taco.
O equilíbrio emocional é, depois da capacidade física, a competência mais importante para o sucesso no esporte. O jogo é muito dinâmico e diversas situações favoráveis e desfavoráveis acontecem frequentemente. O ambiente de jogo também influencia muito no humor dos jogadores, principalmente em situações de jogo desfavoráveis. Qualquer sujeira no caminho da bola branca ou inseto que voe próximo do rosto do jogador ou das bolas no momento de uma tacada pode desequilibrá-lo emocionalmente. Apesar do esporte também servir como lazer para o praticante e ajudá-lo a se afastar do peso de problemas pessoais, muitas vezes um praticante não consegue fazer essa separação e isso acaba atrapalhando muito a eficiência de toda a sua técnica e treino. Sempre vemos bons jogadores errarem bolas fáceis e decisivas por causa do desequilíbrio emocional em situações extremas. Diz-se que o jogador “tremeu” na jogada.